Rio Grande do Sul registra queda no número de transplantes durante pandemia

O número de doadores de órgãos e tecidos no
Rio Grande do Sul caiu significativamente de janeiro a agosto, em relação ao
mesmo período do ano passado, por causa da pandemia de Covid-19. Em
consequência, houve uma queda de 24% no número de transplantes de órgãos
sólidos (coração, pulmão e fígado, por exemplo) e de 54% no de tecidos (córnea,
esclera, osso e pele). Nos oito primeiros meses de 2019, o Estado realizou 467
transplantes de órgãos e 877 de tecidos. Neste ano, no mesmo período, foram 356
e 400, respectivamente.

De acordo com a coordenadora da Central de
Transplantes, Sandra Coccaro, entre os motivos para a diminuição nos índices
estão a rápida disseminação do coronavírus e o desconhecimento acerca da
doença. “A Central de Transplantes precisa assegurar a qualidade do órgão
doado”, explica. “No início da pandemia, não havia testes diagnósticos para
Covid suficientes, então os critérios eram restritivos.” Ou seja, eram
automaticamente excluídos da possibilidade de doação os pacientes em morte
encefálica que, nos dias que antecederam o óbito, apresentaram sintomas
gripais, tiveram contato com pessoas com sintomas ou estiveram em algum país
onde houve circulação do vírus.

“A partir do momento que começamos a realizar
o teste de biologia molecular (RT-PCR) nos possíveis doadores, não havia exame
para todos, principalmente no interior do Estado”, relata a coordenadora. Em
paralelo, o Ministério da Saúde definiu um período de 24 horas de validade do
resultado do exame diagnóstico para fins de doação de órgãos. Isto inviabilizou
um número significativo de doações, visto que o Laboratório Central do Estado
(Lacen), em Porto Alegre, precisa de até três dias para rodar os exames, mais o
tempo entre o registro da morte encefálica e o transporte da coleta até o
laboratório.

“Foram várias etapas que passamos até chegar
ao momento atual, em que temos disponibilidade completa de testes por meio do
Lacen e de laboratórios próprios dos hospitais que realizam a captação de
doadores. Ainda agora, o maior problema enfrentado é com recusa familiar,
principalmente no interior do Estado”, ressalta Sandra.

As famílias mostram resistência em esperar a
coleta do exame chegar à capital e o teste ser rodado, depois realizar a
retirada dos órgãos e, aí sim, o corpo ser liberado. Com a chegada de um novo
aparelho ao Lacen, um extrator automatizado, que deve diminuir o tempo-resposta
dos exames, Sandra projeta melhora nos índices de transplante no Estado.

Transplante
de córneas

O maior impacto foi registrado no transplante
de córneas. Os índices de transplantes desse tecido foram 40% menor este ano em
relação a 2019. A fim de fazer um aporte nos bancos de córnea para doação,
enfermeiros estão em capacitação para realizar a retirada da córnea dos
doadores em morte encefálica junto à Organização de Procura de Órgãos (OPO) Cirúrgica
da Central de Transplantes. O reforço da equipe garantirá que todo o Estado
tenha abrangência, mesmo nos hospitais que, geralmente, não realizam a retirada
de órgãos. A equipe médica também recebeu reforço, passando de dois para seis
profissionais. “Estamos buscando mais soluções como essa para retomar o fluxo
dos transplantes no Estado de forma geral”, disse Sandra.

Outra ação da Central de Transplantes foi
verificar a realidade de cada região do Rio Grande do Sul, a partir das sete
OPOs do Estado vinculadas à Secretaria da Saúde (SES). “Estamos, juntos,
planejando a retomada das ações do processo de doação e transplantes.
Precisamos agilizar e aperfeiçoar cada vez mais nossas ações, pois, dentro do
sistema de saúde, existem aqueles pacientes em lista que dependem de um órgão
para sobreviver ou, até mesmo, necessitam de uma nova forma de viver”, pontuou
a coordenadora.

De
setembro a setembro

Para marcar o chamado Setembro Verde, que faz
alusão à importância da doação de órgãos e tecidos não apenas em setembro, mas
o ano inteiro, a Central de Transplantes lançou a campanha “De setembro a
setembro”. A ideia é reforçar esse tema com a população de forma contínua, com
ações em redes sociais da SES e órgãos parceiros. “É necessário que as pessoas
conversem em família sobre doação de órgãos e se declarem doadoras. A doação só
acontece com o consentimento familiar”, destaca Sandra.

Processo de doação de órgãos e transplantes

1 – Identificação da morte encefálica e manutenção
do potencial doador.
2 – Confirmação da morte encefálica.
3 – Notificação à Central Estadual de Transplantes.
4 – Avaliação do potencial doador.
5 – Entrevista familiar.
6 – Informação do doador.
7 – Seleção dos receptores.
8 – Equipe de transplantes.
9 – Extração e implante dos órgãos.
10 – Liberação do corpo para a família.

Mais informações sobre doação de órgãos e transplantes no site da SES.

Fonte: Ascom SES

By Giovana Frazolini