Trump x Biden: o que são as 'miragens' vermelha ou azul, cruciais para entender o resultado das eleições nos EUA


Resultados preliminares sobre eventual vitória de Trump ou Biden podem ser enganadores, uma vez que cenário geral tende a sofrer grande influência de alguns Estados-chave – onde a apuração pode demorar. As eleições dos EUA de 2016 foram uma noite muito tensa
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A impaciência pode nos pregar uma peça na nesta eleição dos Estados Unidos, uma vez que muitos estão acostumados à imprensa proclamando o vencedor no fim da noite ou na madrugada do dia seguinte — e ouvindo um candidato se declarando vitorioso e o outro reconhecendo a derrota.
No entanto, todos os especialistas pedem calma: podemos não saber o vencedor no mesmo dia ou na madrugada seguinte. Além disso, da noite para o dia podemos nos convencer de que Donald Trump cobriu o mapa de vermelho, a cor republicana; ou que foi Joe Biden quem o fez, com o azul dos democratas. Mas pode ser apenas uma “miragem”.
É um fenômeno para o qual alertam vários analistas e jornalistas do país, em meio ao amontoado de desinformação que marcou a campanha.
O que significam exatamente?
O conceito remete justamente ao que seu nome indica: um cenário que acaba não ocorrendo.
Em termos eleitorais: que os resultados que começam a ser publicados naquela noite apontem para a vitória de um dos candidatos, mas, mais tarde (na madrugada ou dias depois), o panorama vira de cabeça para baixo.
“Miragem vermelha” (red mirage, em inglês), em referência a uma aparente vitória de Trump; ou “miragem azul” (blue mirage), de Biden.
Nestas eleições, é esperado que ocorram grandes alterações nos resultados à medida que alguns Estados publiquem suas apurações, embora nem todos, devido a particularidades como a alta parcela de votos antecipados e pelo correio e as diferentes regras locais de apuração.
Pontos importantes
“A miragem (…) resulta do fato de que, com votação em 50 Estados e no Distrito de Columbia (Washington), temos 51 eleições acontecendo ao mesmo tempo. Cada lugar tem suas próprias regras e isso afeta a forma como eles processam os votos e como são contados”, explica o analista eleitoral Geoffrey Skelley, do famoso portal de análise de dados e pesquisas FiveThirtyEight.
A chave, portanto, está no que cada território decide fazer: em alguns, os votos presenciais no dia das eleições serão contados mais cedo e se espera que favoreçam Trump, já que as pesquisas refletem que um número maior de cidadãos registrados como republicanos disseram que votariam pessoalmente, no dia 3.
Em outros, no entanto, o resultado da votação por correspondência será publicado antes ou será incluído nos primeiros resultados juntamente com os votos do dia que forem apurados. E esses são mais propensos a favorecer Biden, de acordo com dados das mesmas pesquisas, que mostraram maior interesse por essa opção entre os eleitores registrados como democratas.
Estados cruciais
Veja a Flórida, por exemplo, com um histórico de definir eleições e vasta experiência em votação pelo correio.
O Estado começou a processar e contar os votos pelo correio e votos antecipados antes das eleições. As autoridades não informam o resultado antes da noite da eleição, mas isso permite que se adiante parte do trabalho.
Assim, de acordo com Skelley, quando a Flórida fecha as pesquisas e logo depois começa a publicar os resultados, “podemos ver que os democratas estão melhor no início (miragem azul) e os republicanos vão ganhando terreno com o avançar da noite devido a votos naquele dia, o que tenderá a ser pró-Trump.”
Em Rodeo Drive, famosa avenida na Califórnia, trabalhadores blindaram várias lojas de luxo às vésperas da eleição
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A situação pode ser completamente oposta em algumas regiões do Cinturão de Ferrugem: Pensilvânia, Michigan ou Wisconsin, os três Estados que, em 2016, inesperadamente se voltaram a favor de Trump e abriram as portas da Casa Branca para ele, com cerca de 80 mil votos.
Neste ano, o seu papel também pode ser decisivo se a corrida for acirrada, mas, neste caso, será necessário ter ainda mais paciência.
Na Pensilvânia, por exemplo, os funcionários eleitorais não podem começar a processar as cédulas enviadas pelo correio antes das 7 horas do dia da eleição e, portanto, há uma forte possibilidade de que grande parte dos votos inicialmente contados venha daqueles depositados pessoalmente no dia 3.
Ou seja, nesse caso, é produzida uma espécie de “miragem vermelha”.
No entanto, é preciso levar em conta os registros de participação antecipada já registrados, que podem agilizar o processo e fazer a reviravolta “não tão marcada quanto alguns temem”, destaca o analista.
“Os níveis de participação antecipada têm sido incríveis. É algo que nunca vimos, é completamente incomum na história”, disse David Becker, diretor-executivo do Centro de Pesquisa e Inovação Eleitoral e ex-funcionário do Departamento de Justiça.
“Há Estados como o Texas que já estão com 90% da participação que foi registrada em 2016 (…) e isso ajuda a garantir que as eleições sejam realizadas com o menor número de contratempos”, disse em conversa com a BBC Mundo quando ainda faltavam seis dias para as eleições.
Antes do dia da eleição, os votos antecipados no Texas já tinham ultrapassado a participação total de 2016.
A participação antes do dia 3 de novembro estabeleceu um novo recorde este ano
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Na opinião dele, cantar vitória com uma “miragem vermelha” ou “azul” é como se, em uma partida de tênis, um jogador se declara vencedor após o primeiro set.
“Está baseado na ideia de que de alguma forma alguém poderia dizer que está na frente com uma pequena porcentagem dos votos apurados, o que é ridículo.”
No entanto, os alertas que se ouvem nestes dias no país podem ser explicados em parte pelo delicado momento político e social pelo qual passam os EUA e pela ameaça de fraude eleitoral, agitada pela campanha republicana.
Trump, que aparece atrás nas pesquisas, disse em várias ocasiões que o voto pelo correio incentiva a fraude, embora não haja evidências disso, e insiste há meses para que os resultados sejam conhecidos na noite das eleições.
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“Precisamos saber os resultados da eleição na noite da eleição, não dias, meses ou mesmo anos depois!”, escreveu no Twitter em julho.
Na avaliação de Becker, esse tipo de mensagem é prejudicial.
“Não há nada que nossos adversários queiram mais do que ver a nós, americanos, perdendo a confiança em nossas eleições e na democracia. (…) Sabemos por décadas de experiência que votar pelo correio é seguro, que a fraude eleitoral é extremamente rara nos Estados Unidos. E será assim em 2020”, diz o especialista em eleições.
“E se o eleitor ouvir alguém de uma das campanhas dizer que não confia no sistema, por exemplo, é provavelmente porque essa campanha pensa que está perdendo”, conclui.
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VÍDEOS: Eleições nos EUA 2020

By Giovana Frazolini