Filho de um agricultor que não concluiu o ensino fundamental, Robert H. Smith Sr cursou faculdade e fez mestrado e doutorado; ensinou em faculdades historicamente negras e só se aposentou há cerca de dez anos. Foto mostra o eleitor Robert H. Smith Sr, de 99 anos, votando nas eleições presidenciais dos EUA
Rhonda Smith (Cortesia)
O americano Robert H. Smith Sr, de 99 anos, fez questão de ir às urnas no último sábado (31) para depositar a cédula com seu voto nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, que serão decididas na noite desta terça-feira (3).
Nascido em 9 de maio de 1921 em uma plantação na Louisiana, Robert registrou seu voto na cidade de Jackson, no estado vizinho, o Mississippi, ambos no Sul dos EUA. Ele disse à rede de televisão “ABC News” que ficou na fila por cerca de 20 minutos, junto com o filho, para entregar a cédula pessoalmente.
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Robert contou que estava orgulhoso de votar depois de superar uma série de obstáculos ao longo da vida.
“Eu lembro de quando não podia votar”, disse o nonagenário, que é professor aposentado, à “ABC”. Ele foi à urna usando máscara e com um adesivo de “eu votei”.
“Votar é uma experiência que todo cidadão americano deveria ter. Nós, o povo, decidimos quem vai ser nosso líder”, declarou.
Por ser negro, o direito de Robert ao voto nem sempre foi garantido. Embora os EUA tenham adotado a 15ª Emenda em 1870, que legalmente concedia aos cidadãos negros esse direito, exercê-lo de fato se tornou um desafio de décadas, com algumas áreas implementando requisitos específicos, como testes de alfabetização e taxas de votação.
Foi apenas em 1965 que o então presidente Lyndon B. Johnson sancionou o Ato do Direito ao Voto (“Voting Rights Act”, em inglês), durante o movimento pelos direitos civis. O documento foi um marco da legislação federal que proibia a discriminação racial em nível estadual e local.
“Só espero que as coisas melhorem politicamente. Não acho que temos que ter a situação que temos hoje”, disse Robert, que votou em Joe Biden, à emissora americana.
Educação
Robert nasceu na plantação de Burks, perto de Rayville, cidade próxima à fronteira da Louisiana com o Mississippi.
O termo “plantação” é uma tradução literal de “plantation”, um tipo de sistema agrícola baseado em plantar apenas um tipo de produto – como algodão, café, chá ou açúcar – para exportação. Normalmente, essas plantações eram feitas em grandes propriedades de terra (latifúndios) e com mão de obra escrava (antes de 1865, quando a escravidão foi abolida).
O pai de Robert era meeiro em um desses terrenos – um agricultor que trabalhava nas terras de outra pessoa e repartia seus rendimentos com o dono dessas terras. Apesar de não ter terminado o ensino fundamental, ele sempre dizia a seus filhos que “a única saída é permanecer na escola”.
A mensagem foi transmitida por gerações. Robert foi para a faculdade e, depois, cursou mestrado e doutorado. Ele se aposentou do ensino há apenas uma década, dizendo que teve uma longa carreira simplesmente porque a amava, segundo a “ABC News”.
“Comece uma profissão que goste e não trabalhará um só dia na vida”, disse o nonagenário.
Na universidade onde fez o mestrado, a Universidade de Illinois, Robert disse que os estudantes negros não podiam comer em certos restaurantes devido à cor da pele. Ele se juntou ao comitê de relações comunitárias da escola para garantir que todos fossem servidos em todos os lugares, e também se juntou a protestos.
Depois de terminar os estudos, Robert seguiu sua paixão pelo ensino como professor de sociologia na Florida A&M University, reitor de estudos liberais na Jackson State University e reitor de estudos para calouros no Tougaloo College.
Todas as três instituições são faculdades e universidades historicamente negras – como são chamadas aquelas estabelecidas antes do Ato de Direitos Civis de 1964, quando a lei ainda permitia que estudantes negros fossem discriminados no ensino superior.
Para Robert, ver as recentes manifestações nos EUA em protesto contra a desigualdade racial faz com que ele se lembre de seu tempo como ativista estudantil. Ele acredita que a atual pressão por justiça é apenas um sinal de que o trabalho está longe do fim.
“Estive envolvido neste movimento nos últimos 50 anos… mas há muito mais a ser feito”, disse Smith à ABC News.
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