Estimativas iniciais dão conta que 160 milhões votaram nesta eleição, maior comparecimento em 120 anos. Biden e Trump disputam eleição marcada por polarização e votação antecipada
Jim Bourg/Pool via AP; Elcio Horiuchi/G1
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As filas em locais de votação nos Estados Unidos já davam indicativo de que o comparecimento às urnas nas eleições americanas seria recorde em 2020. Houve registro de filas de mais de 4 horas apenas para escolher entre Joe Biden e Donald Trump.
Segundo o cientista político Michael McDonald, professor da Universidade da Flórida e especialista em eleições, a estimativa é que 160 milhões de americanos tenham votado. Trata-se de um percentual de quase 67% dos eleitores em um país de voto facultativo e do maior engajamento desde 1900.
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Os números ainda podem aumentar à medida que votos por correio acima da expectativa sejam contabilizados. São quatro os principais motivos que explicam tanto comparecimento.
Polarização política
Pandemia do coronavírus
Black Lives Matter (e outros movimentos sociais)
Economia e empregos
Pesquisas de boca de urna, chamadas nos EUA de “exit polls” confirmam a tendência. A sondagem do Edison Research, usada pelo jornal “The New York Times” mostra que a economia é o motivo mais importante para votar para 35% dos mais de 15,5 mil entrevistados. Na sequência, vêm a desigualdade racial (20%), a pandemia (17%), crime e segurança (11%) e políticas de saúde (11%).
Resultado parecido é observado na boca de urna da emissora americana CNN. Economia tem 34% das escolhas. Desigualdade racial tem 21%. A pandemia, 18%. Segurança e saúde, 11% cada.
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Polarização política
A eleição de 2016 foi um marco de negação à política tradicional, coroando Trump como presidente mesmo sem qualquer experiência política. A mesma tendência foi observada em eventos como o Brexit meses antes e a própria eleição brasileira em 2018.
Quatro anos depois, Trump se vale de uma consolidação do discurso de que não pertence ao mainstream político e quer proteger o país das mãos da política tradicional, além do que chama de “socialismo” dos democratas.
Trump tem pressa para encerrar o jogo
A narrativa, nem sempre baseada em fatos, foi a sustentação e agitação da base de seguidores. Segundo o jornal “Washington Post”, Trump mentiu mais de 22 mil vezes desde que assumiu o governo.
Na outra ponta, Biden tenta emplacar uma imagem de pacificador. O candidato repetiu inúmeras vezes que Trump aposta na divisão e que seria presidente para “todos os americanos”, não apenas para os democratas.
Mais do que o desejo de união, entretanto, o estica-e-puxa acabou dando uma roupagem ao pleito de disputa entre os pró-Trump e os anti-Trump.
Inclusive, quem vota pela primeira vez, escolheu Biden na maioria das vezes, segundo boca de urna do instituto Edison Research. São 66% dos novos eleitores que preferem o democrata – ou se mobilizaram para derrotar Trump.
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Pandemia do coronavírus
Os Estados Unidos são o país com o maior número de contágio e mortes por Covid-19 em todo o mundo. O vírus contaminou mais de 9 milhões de cidadãos, e matou mais de 232 mil, segundo a Universidade Johns Hopkins.
Opositores de Trump buscaram estampar nele a responsabilidade pelo descontrole da doença no país, enquanto apoiadores atribuíam a culpa aos governadores.
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Trump foi o primeiro a recomendar o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, mesmo sem comprovação científica de que o medicamento era eficaz. Também sempre foi avesso ao uso de máscaras. Em diversos momentos, patrocinou um processo de fritura do principal epidemiologista dos EUA, o médico Anthony Fauci.
O episódio mais icônico, contudo, foi a revelação de que Trump tinha consciência da alta taxa de contágio e mortalidade do vírus em fevereiro, mas decidiu minimizar o problema publicamente. O presidente assumiu a decisão em entrevista ao jornalista Bob Woodward, em seu livro “Fúria”.
Desde a revelação, Biden e os democratas insistiram que a condução da pandemia por parte do presidente foi “a pior do mundo”. O candidato democrata prometeu ouvir cientistas e aumentar a testagem para combater o vírus.
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No último debate presidencial, Trump disse que assumia “total responsabilidade” por ter escondido a informação do público, mas voltou a desviar-se de culpa. Atribuiu a disseminação do vírus à China. “Não é minha culpa que isso [o vírus] chegou aqui. Nem é culpa do Joe. É culpa da China”, disse.
Boa parte dos eleitores idosos mudou de lado nessas eleições justamente pela insatisfação da atitude de Trump frente à pandemia.
Segundo o Edison Research, 17% dos eleitores consideraram a pandemia um motivo importante para votar e nada menos que 82% diz ter votado em Biden.
Na sondagem da rede CNN, 68% entendem o uso de máscaras como responsabilidade de saúde pública, o que contrasta com a posição de Trump.
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Black Lives Matter
Ao longo do governo, o presidente foi permissivo com movimentos supremacistas brancos e entusiasta de milícias armamentistas. Assim, os movimentos sociais sempre lhe firmaram oposição.
Mas foi a morte de George Floyd, em maio, que reacendeu o ativismo contra Trump. Protestos em todo o país pediam mudança na postura policial contra negros, tratamento igualitário e o fim do racismo.
O movimento ganhou atenção também nos esportes e entre celebridades, com manifestações na liga de basquete americana, a NBA, e na Fórmula 1, com protestos do piloto Lewis Hamilton. Viola Davis, Michael B. Jordan, Ariana Grande e tantos outros se engajaram nas passeatas.
Esse foi um dos motores para que negros se motivassem a ir às urnas contra o presidente. Em especial nos Swing States, os estados pendulares na eleição, a atenção está voltada ao peso do votos do negros, que não se motivaram a votar em 2016, mas foram às urnas neste ano.
As minorias são importantes para Joe Biden. Segundo pesquisa do Edson Research, o democrata tem 87% das preferências de negros, ainda que representem apenas 12% do eleitorado. Latinos (66%) e asiáticos (63%) também preferem o candidato.
A desigualdade racial foi apontada por 20% dos eleitores como motivo para votar, e 91% prefere Biden.
Mas a performance de Trump entre minorias foi melhor que o esperado. O resultado na Flórida foi ampliado pelos latinos, em especial de origem cubana, que são avessos aos democratas. Além disso, a pesquisa mostra que a votação em Trump entre negros (11%), hispânicos (31%) e asiáticos (30%) aumentou em 3 pontos percentuais comparado a 2016.
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Economia e empregos
Donald Trump vinha com bons resultados na economia até o ano da eleição. O desemprego chegou a mínimas históricas, ainda que os salários não tenham subido a contento.
Em fevereiro deste ano, a taxa de desemprego caiu para 3,5%, o menor nível em 50 anos.
A pandemia fez água nesse progresso em todo o mundo, e os Estados Unidos não escaparam. A economia sofreu uma contração recorde de 31,4% no segundo trimestre de 2020. A recuperação, contudo, também foi forte. O crescimento do terceiro trimestre foi de 33,1% em relação aos três meses anteriores, em dados anualizados.
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Trump se vale de que houve uma recuperação em “V”, mas o número de novos pedidos de auxílio-desemprego continua acima dos patamares pré-pandemia. Para analistas, isso eleva os temores de que a pandemia de Covid-19 esteja causando danos duradouros ao mercado de trabalho dos Estados Unidos.
Biden se aproveitou dos números na campanha, dizendo que Trump será o primeiro presidente da história recente a entregar mais desempregados do que tinha quando assumiu. Além disso, justifica que o progresso do governo republicano veio de presente da gestão Obama.
Pouco importa: dos 35% que apontaram a economia como motivo para votar, 82% prefere Trump, segundo o Edison Research.
A CNN indica, contudo, que 52% dos eleitores acredita ser mais importante conter a pandemia do que recuperar a economia (defendido por 42%). Visto que a atitude do presidente perante a emergência de saúde não é bem vista, esse pode ter sido mais um ponto favorável para Biden.
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