Com a facilidade de acesso às plataformas de streaming e a democratização do espaço digital, o funk – que começou como um movimento cultural limitado às periferias – passou a conquistar bons números e revolucionar o consumo de música no país depois da popularização e do trabalho de vários artistas do gênero na internet. Para MC Hariel, um dos artistas do gênero mais populares nas redes sociais, a ascensão do funk é resultado de uma missão pessoal. “Eu quero fazer que o funk seja motivo de orgulho para o Brasil”, disse em entrevista exclusiva à Jovem Pan.
Para ele, embora ainda seja alvo de preconceito no país, uma das melhores maneiras de promover o funk é mostrar que, assim como os demais ritmos, o gênero também tem um lado bom e promove a mudança social. Com o EP ‘Avisa Que é o Funk’, divulgado no começo deste mês, o artista levanta a voz para lembrar que não é menos que ninguém e que o funk não pode ser silenciado. “A gente, algumas vezes, pode até saber menos de harmonia e de teoria musical, mas somos esforçados pra caramba. Meu objetivo maior é fazer o funk prevalecer e mostrar o lado bom das coisas”, contou. “A gente tem que mostrar que somos capacitados para ser vistos de igual pra igual”, destacou o músico ao lembrar que, embora o funk seja um trabalho como qualquer outro, a paixão pela música precisa prevalecer sobre o preconceito.
O editor de música da plataforma Deezer, Vithor Reis, diz que essa jornada dos funkeiros na luta pelo fim do preconceito com o gênero tem dado certo. Ele conta que, em dados, o funk não para de crescer e que por ser um ritmo tão volátil faz um baita sucesso no mundo todo. “São inúmeros subgêneros e o mercado está se estruturando para auxiliar a grande demanda desse ecossistema”, disse. “O Funk dentro da Deezer tem uma representatividade muito importante. Nossa playlist ‘Funkadão’ sempre está no Top 5 de playlists mais ouvidas mundialmente dentro da plataforma e isso mostra a força que o gênero tem e como não é algo mais só do sudeste. Por exemplo, a playlist ‘Som de Paredão’, que contém apenas Brega Funk (subgênero conhecido no nordeste, que se tornou-se nacional) tem crescido vertiginosamente.”, completa. Reis também lembra que o gênero está em constante evolução e, por se reinventar constantemente, consegue promover o crescimento de todos os subgêneros. “Em 2018 e 2019 tivemos o boom do Funk 150 BPM, agora em 2020 o Brega Funk domina as paradas, junto com o Rave Funk e o Funk Mandrake”.
A pluralidade de vertentes do gênero, para a Deezer, é o resultado da mistura do funk com outros ritmos populares no país, como o sertanejo e a música eletrônica – característica presente nos trabalhos de alguns dos principais nomes da música, como MC Don Juan e Anitta. “Misturar gêneros é necessário para o renovação do gênero, como Brega Funk e Rave Funk que fazem muito sucesso”, conta Vithor Reis. “Acredito que a próxima tendência do funk é se unir cada vez mais com o hip-hop e acabarem tornando-se uma coisa só, devido uma grande proximidade com as realidades tratadas de cada gênero musical. Esse processo já está acontecendo e de forma muito natural, um exemplo é a música ‘Homenagem aos Relíquias’ que funciona como um cypher, algo muito comum do rap com diversos rappers na mesma faixa, mas aqui as rimas são de MC’s do Funk.”, exemplifica. Sobre o tema, Hariel conta que fica muito feliz com o rumo que tudo está tomando e destaca que o funk só vai conseguir quebrar o paradigma do preconceito quando começar a “invadir” outros gêneros e conquistar outros públicos.
Suspensão das atividades culturais: um desafio para a música!
Desde o começo da pandemia de Covid-19, no começo de março, as atividades culturais foram oficialmente interrompidas no Brasil e, com isso, uma crise financeira envolvendo a categoria ganhou força. Depois de sete meses sem eventos públicos, MC Hariel chama a atenção para os empregos de todos os envolvidos com os eventos de funk, diz estar preocupado com o cenário e garante que está pronto para voltar às atividades uma vez que o governo liberar eventos e aglomerações maiores – o que deve ocorrer apenas após a vacinação. “A gente já está pronto pra voltar com tudo e com força total”, diz. “A pandemia tem sido uma das piores épocas da minha vida, mas eu consegui manter uma condição financeira mais confortável. Eu vi meus amigos passando por momentos ruins e eu consegui manter a minha equipe sem passar nenhum grande perrengue, mas sei que sou minoria considerando o tamanho desse problema.”, contou.
Assim como todo o setor de entretenimento, o funk gera milhões de empregos formais e informais no Brasil. Uma das pessoas afetadas com a interrupção das atividades culturais, Thalia Rodrigues foi forçada a deixar o cargo de gerente em uma tabacaria em São Paulo, que contava com frequentes apresentações de funk na programação, por conta da diminuição repentina do movimento. “Estávamos em uma ótima época na área de eventos, mas depois dos primeiros casos, o público sumiu”, contou à Jovem Pan. Para ela, interromper os planos traçados para 2020 foi a parte mais desafiadora e triste em todo o processo. “Ainda estava no começo do ano e todo mundo tinha traçado planos e de repente tivemos que adiar ou desistir de tudo que imaginávamos que ia fazer”, continuou. “Foi bem complicado!”.
Segundo Zeke Emmanuel, diretor do Instituto de Transformação da Saúde da Universidade da Pensilvânia, os shows só devem voltar a acontecer normalmente no segundo semestre de 2021. Para ele, a reunião de grandes massas será a última parte da vida normal a ser retomada após a pandemia. Segundo Vithor Reis, da Deezer, o começo da pandemia e isolamento social causaram um declínio imediato na curva de stream, uma vez que a rotina dos consumidores foi interrompida junto com as atividades sociais. “Algumas das principais ocasiões de consumo deixaram de fazer parte da rotina das pessoas, como a ida e volta ao trabalho, academia ou faculdade.”, disse. Para MC Hariel, a pandemia está sendo, além de tudo, uma oportunidade de se reinventar.
Ouça “Avisa que é o Funk!”: