Os dois candidatos contam com trunfos que serão decisivos à medida que começar a contagem de votos do pleito desta terça. Trump e Biden
Alex Brandon/AP Photo; Andrew Harnik/AP Photo
Com cifras recordes de votação antecipada, polarização política extrema e uma pandemia em curso, as eleições americanas desta terça-feira (03) são vistas como as mais tensas das últimas décadas.
EUA vão às urnas para decidir entre Donald Trump e Joe Biden; siga
Na dianteira das pesquisas eleitorais, o democrata Joe Biden tenta impedir a reeleição do republicano Donald Trump. A seguir, alguns fatores-chave que podem fazer o pleito pender para um lado ou para o outro, e que ficarão em evidência à medida que começar a apuração dos votos:
O que Donald Trump tem a seu favor
O presidente dos EUA Donald Trump gesticula enquanto visita a sede de sua campanha em Arlington, Virgínia, nesta terça (3)
Saul Loeb/AFP
1. Uma base fiel
A base de simpatizantes de Donald Trump tem se mantido firme desde 2016, quando ele foi eleito presidente.
Apesar de todos os acontecimentos em curso desde então – desde um processo de impeachment até uma pandemia com um saldo (até esta terça) de quase 232 mil mortos -, Trump não enfrentou quedas agudas de popularidade (nem grandes altas).
E quem forma essa base? A pergunta é mais complexa do que parece à primeira vista, mas em linhas gerais esse apoio se sustenta em parte pelos homens brancos sem curso universitário e nos residentes das áreas rurais.
Esses grupos tiveram papel decisivo nas eleições de 2016, principalmente nos Estados do chamado “cinturão da ferrugem” – como Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, que deixaram a tradição democrata de lado na última eleição e votaram a favor de Trump.
Ao longo da atual campanha, e apesar da pandemia, Trump continuou a atrair para seus comícios uma quantidade significativa de eleitores, com entusiasmo similar ao de quatro anos atrás.
O presidente Donald Trump faz um pronunciamento enquanto visita a sede de sua campanha presidencial em Arlington, no estado da Virgínia, nesta terça-feira (3)
Saul Loeb/AFP
2. A economia
Na última semana, foram divulgados dados que sinalizam o início da recuperação econômica depois dos estragos causados pela pandemia.
A economia americana cresceu em ritmo sem precedentes no terceiro trimestre, com um aumento de 7,4% do PIB, o que equivale a um ritmo anual de 33,1%, segundo o Escritório de Análises Econômicas dos EUA. Isso não significa que a a economia manterá esse ritmo, principalmente diante de uma nova grande onda de casos de coronavírus em diversos Estados.
Antes da pandemia, a economia era um dos grandes trunfos de Trump na busca pela reeleição.
O próprio presidente afirmou isso em alguns de seus discursos, dizendo que o trabalho de campanha eleitoral estava “praticamente feito” até fevereiro (quando começou a crise sanitária global) e que teve de “começar a fazer campanha” por causa da rápida piora da economia desde então.
De qualquer modo, as pesquisas apontam que a população tende, em termos gerais, a confiar mais em candidatos republicanos do que em democratas no que diz respeito à gestão econômica, e Trump usa isso para gerar preocupação no eleitorado no caso de Biden vencer a eleição.
Donald Trump faz discurso no comitê de campanha na Virginia, nesta terça (3), dia das eleições presidenciais dos Estados Unidos
Reuters/Tom Brenner
3. Defesa de valores conservadores
Um dos grandes pilares da campanha de Trump tem sido qualificar Biden como “socialista” ou “marionete” da ala mais à esquerda do Partido Democrata.
Diante disso, o presidente se apresenta como o único capaz de manter a “lei e a ordem” e os valores mais tradicionais.
O republicano usou os protestos recentes contra a violência policial, que se espalharam pelos EUA após a morte de George Floyd, para advertir contra o “caos e a desordem” que prevaleceriam, nas palavras dele, em cidades e Estados governados por democratas.
O fato de ter conseguido nomear três juízes conservadores para a Suprema Corte em um só mandato também pesou para eleitores que, mesmo sem gostar de Trump, aplaudem o fato de a principal instância judicial do país ter ficado com maioria conservadora, algo que deve ter impacto crucial em pautas sociais futuras do país.
O que Joe Biden tem a seu favor
Joe Biden, candidato à presidência dos EUA, durante evento na Pensilvânia em 2 de novembro
Kevin Lamarque/Reuters
1. O voto anti-Trump
Os analistas políticos consultados pela BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, argumentam que um fator-chave que pode dar a vitória a Biden é uma profunda rejeição a Trump, não só por parte de democratas como também de um setor republicano desalentado com o estilo do atual presidente.
Desse modo, a eleição desta terça é também um referendo de seu primeiro mandato, principalmente em temas como a condução do país – que tem o maior número de mortos em todo o mundo por covid-19 – durante a pandemia.
“(O voto em Biden) é definitivamente um voto contra Trump”, afirma Robert Shapiro, professor de Ciências Políticas na Universidade de Columbia.
“As pessoas estão motivadas em tirá-lo (do poder)”, ele agrega, citando o exemplo do Lincoln Project, grupo fundado e formado por republicanos que “não necessariamente apoiam a agenda de Biden, mas querem se livrar de Trump”.
Embora o apoio do Partido Republicano a Trump seja indiscutível, há cada vez mais vozes de relativo peso dentro da agremiação que pregam o voto em Biden.
O mais recente deles foi o ex-senador Jeff Flake, que na quinta-feira (29) postou nas redes sociais um vídeo explicando por que decidiu votar em Biden no Arizona, um dos Estados que podem ter peso especialmente grande na decisão desta eleição.
Joe Biden, candidato à presidência dos EUA, durante evento em Ohio no dia 2 de novembro
Kevin Lamarque/Reuters
2. Capacidade de mobilizar um eleitorado mais amplo
Segundo dados do US Elections Project, mais de 100 milhões de eleitores votaram antecipadamente no pleito desta terça, seja por correio ou pessoalmente, mais do dobro em relação ao pleito de 2016.
Acredita-se que esse alto comparecimento eleitoral beneficie os democratas, explica Matthew Record, professor de Ciências Sociais na Universidade Estatal de San José, na Califórnia.
Não se trata de uma ciência exata: ainda não se sabe exatamente o quanto desses votos irão para Biden, ou se trata-se apenas de eleitores sendo mais precavidos para evitar longas filas no dia da eleição em meio à pandemia.
Mas, de qualquer modo, o público parece mais motivado, e Biden, com sua mensagem conciliadora, tem sido capaz de galvanizar o apoio de uma variedade de segmentos populacionais que não se sentiram motivados a votar em Hillary Clinton em 2016.
A personalidade moderada de Biden também permite atrair republicanos ou democratas de centro que rejeitavam candidaturas mais à esquerda dentro do partido, como as de Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
Joe Biden discursa em rua da Filadélfia, na Pensilvânia, nesta terça-feira (3)
Drew Angerer/Getty Images North America/Getty Images via AFP
3. A gestão da pandemia
Durante a campanha eleitoral, Biden abordou o tema da pandemia de modo diametralmente oposto ao de Trump, não só na forma – aparece sempre de máscara, organiza comícios com as pessoas dentro de seus carros e menciona as vítimas da Covid-19 em seus discursos – como nas propostas para gerenciar a crise.
Tanto ele quanto sua vice, Kamala Harris, e o ex-presidente Barack Obama culpam a gestão de Trump pelos altos índices de casos e mortes no país, uma mensagem que possivelmente terá eco em grupos importantes do eleitorado que foram desproporcionalmente afetados pela pandemia – em particular, os idosos, cujo voto tem peso em Estados-chave, como a Flórida.
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